quinta-feira, 12 de setembro de 2013

TRANSFORMAÇÃO RADICAL



             
 Enquanto alguém persistir em se julgar um, único ou individual, é evidente que não será possível nenhuma mudança radical [em si mesmo].
O próprio fato de o trabalho esotérico começar com uma rigorosa observação de si mesmo está indicando uma multiplicidade de fatores psicológicos, eus ou elementos indesejáveis que temos que extirpar ou erradicar urgentemente do nosso interior.
É inquestionável que de forma alguma é impossível eliminar erros desconhecidos. Urge que observemos previamente que queremos separar da nossa mente.
Esse tipo de trabalho não é externo, e sim, interno. Aqueles que pensam que qualquer manual de boas maneiras ou sistema ético, externo e superficial, pode levar-nos ao êxito, equivocam-se totalmente.
O fato concreto e definitivo de que o trabalho íntimo começa com a atenção concentrada em forma de observação plena de si mesmo é motivo mais do que suficiente que isso exige um esforço pessoal muito especial.
Falando fracamente e sem rodeios, e firmamos enfaticamente o seguinte: Nenhum ser humano pode fazer esse trabalho por nós.
Não é possível mudança alguma na nossa mente sem a observação direta de todo esse conjunto de fatores subjectivos que temos dentro.
Dar por aceite a multiplicidade de erros, descartando a necessidade de estudo e a observação direta dos mesmos, significa uma fuga de si mesmo, uma forma de auto-engano.
Só através do rigoroso esforço da observação criteriosa de si mesmo, sem escapatória de espécie alguma, poderemos evidenciar que não somos um, é sim, muitos.
Admitir a pluralidade do eu evidenciá-la através de rigorosa observação são dois aspetos diferentes.
 Alguém pode aceitar a doutrina dos muitos eus sem jamais tê-la evidenciado. Essa evidência só é possível observando-nos cuidadosamente.
Evitar o trabalho de observação íntima e buscar evasivas é sinal inconfundível de degeneração.
Enquanto um homem alimentar a ilusão de que é sempre uma única e mesma pessoa, não pode a mudar. È obvio que a finalidade desse trabalho é precisamente conseguir uma transformação gradual na nossa vida interior.
Perdemos a possibilidade de uma transformação radical quando não trabalhamos sobre nós mesmos.
O ponto inicial da transformação radical permanece oculto enquanto o homem continua a julgar-se uno.
Aqueles que rechaçam a doutrina dos muitos eus demonstram claramente que jamais se auto-observaram seriamente.
A severa observação de si mesmo, sem escapatórias de espécie alguma, permite verificar o cru realismo de que não somos um, mas sim, muitos.
No mundo das opiniões subjetiva, há várias teorias pseudo-esotéricas ou pseu-ocultistas que sempre servirão de escapatória para fugirmos de nós mesmos.
Não há dúvida de que a ilusão que temos de sempre sermos a única e mesma pessoa é um sério problema para a auto-obervação.
Alguém poderá dizer: “Sei que não sou um mas sim muitos porque a gnose assim me ensinou”. Esta afirmação, ainda que sincera, sem a experiência direta ou vivência desse aspeto doutrinário, continua a ser algo meramente externo e superficial.
Evidenciar, experimentar e compreender é o mais importante.
Somente assim é possível trabalhar conscientemente para conseguir uma transformação radical.
Afirmar é uma coisa; compreender, é outra: Quando alguém diz:”
Compreendo que não sou um e, sim, muitos” se a sua compreensão é verdadeira e não mero palavrório de conversa vazia, isso indica, assinala e atesta a plena verificação da doutrina dos muitos eus.
Conhecimento e compreensão são coisas diferentes. O conhecimento é da mente e a compreensão do coração.
O mero conhecimento da doutrina dos muitos eus de nada serve. È uma lástima que nos tempos atuais o conhecimento tenha ido muito além da compreensão em função do pobre animal intelectual equivocadamente chamado homem ter desenvolvido unicamente o lado do saber e esquecido o correspondente lado do Ser.
Conhecer a doutrina dos muitos eus e compreendê-la é fundamental para uma mudança radical e verdadeira.
Quando um homem começa a observar-se detidamente, do ponto de vista de que não é um, mas, sim, muitos obviamente iniciou um trabalho sobre a sua natureza interior.

  VM  Samael Aun Weor

 In “Psicologia Revolucionária” – Bases Espirituais para Criar Nova Vida Interior.

Edição IGB Página, 37


JFM- Lisboa - Portugal




quinta-feira, 5 de setembro de 2013

O ESPÍRITO REBELDE



 "…José Harkuch era cobarde. E ao ouvir as palavras cálidas e entrecortadas da sua filha, sorria com o sorriso do pusilânime que vê no leão morto. Na sua covardia, temia à morte, e não podia pensar num falecimento natural. O que ia achar se Maria se suicidasse?...
E quando ela terminou de falar, ele contestou:
— Arrependo-me ter alongado tanto o prazo do casamento, mas amanhã mesmo falarei com o Emir para adiantá-lo.
Maria levantou-se do solo. E com um tom saturado de orgulho e vingança, disse ao Bey:
— Está bem... Quis convencer-te com provas e razões justas, mas tu não as quiseste escutar... Agora, ouve bem o que te vou dizer: Meu corpo pertence-te, minha alma pertence a Deus... Mas, só eu sou dona de minha vontade! É a minha última palavra...
Maria não pôde terminar. A mão brutal de José Bey, caiu sobre seu rosto, obrigando-a a cair desmaiada.
Contemplou-a um momento, e quando a ternura ia bater à porta de seu coração, a brutalidade negou abri-la.
— Ah, mulheres! -Exclamou— conheço muito bem vossa astúcia... Podes morrer, mas antes casar-te-ás com o Emir.
Neste momento, a porta girou sobre seu eixo, deixando entrar a criada que ao ouvir um ruído no quarto de seu senhor, vinha ver de que se tratava.
Viu Maria estendida no solo, cujo conhecimento tinha perdido de seu domínio, e começou a reanima la com carícias e palavras sentidas.

José Bey Harkuch abandonou a sala.
Antes que se acorde o homem ou a mulher do sonho de criança; antes que os deuses prendam o fogo do amor no coração; antes que germinem as sementes do carinho, os pais tentam casar a seus filhos. Durante aquele sonho, a jovem acha que o cúmulo da felicidade consiste num vestido que enfeite a figura, num carro que a conduza a um lugar de diversão ou um enxoval completo e luxuoso a rodeá-la. Mas quando se acorda, quando a luz abre suas pálpebras e sente que línguas de um fogo sagrado calcinam seu coração, quando suas asas se movem para levantar ao céu do amor, se encontra sujeita às correntes das leis antes de compreender que é a lei; então sente que a felicidade não consiste, para a mulher, em jóias ou vestidos, mas no amor que une sua alma à do homem e que o faz derramar os sentimentos do seu coração, formando de dois, um só membro de corpo da vida e uma só palavra na boca de Deus.
Maria acordou do sonho juvenil e viu uma luz suave que emanava dos olhos de Juan. Fecharia seus olhos para não a ver? Escutou uma harmonia celestial que invadiu todo o seu ser... Fecharia os seus ouvidos para não a ouvir?...
Ainda que feche os ouvidos e cerre os seus olhos, sempre teria que ver e ouvir. Mas, como abandonar a um homem que a adora e seguir a outro a quem odeia, só por obedecer às leis da terra?... Maria quer fazer a vontade de sua alma, quer escutar o grito de seu coração e os cantos dos anjos. Maria não se quer casar com um capitalista que herdou sua fortuna de um pai avaro e que se deixou educar por aqueles que vagueiam pelas ruas. Porque uma vez terminada a lua de mel — lua que terá um eclipse —, ele abandoná-la-á em seu palácio, como abandona o ébrio a garrafa que tem esvaziado; abandoná-la-á para voltar às mulheres perdidas. Então não lhe restará mais que procurar a um jovem formoso, de palavra suave, para derramar em seu espírito os sentimentos e lhe encher os bolsos com o tesouro de seu esposo...
 Maria é uma jovem instruída e pede por esposo a um homem mais instruído que ela. Não quer um marido, senão um dono carinhoso, um homem que jogue com ela como se fosse uma menina. Maria não quer, nem pode querer a um homem que mais pertence à escala zoológica que à humana. Maria não podia pensar como a esposa de Rousseau, dizendo: "Que desgraça é ter um sábio por marido!"
Todo ser na terra vive pela lei da natureza e da natureza da sua lei lhe vêm da glória de gozar da liberdade. Será o homem o único ser privado de dita liberdade, porque cria para sua alma divina, uma lei humana, muito limitada?...
Essa mesma noite, e quase à mesma hora, chegou Juan à janela em onde lhe esperava sua querida.
Depois do acostumado abraço, Maria disse-lhe:
— Por que tens demorado?...
— Chamas tu atraso chegar dez minutos antes da hora do costume?
— Deus meu! Que dia tão longo tenho passado!
— Por que, amada?... Que te passa?
Maria não pôde falar. Inclinando no ombro de Juan, rompeu a chorar.


Textos fragmentados do livro: "O Culto ao Fogo e A Doutrina do Fogo" e complemento esotérico do livro do Dr. JORGE ADOUM


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