quinta-feira, 14 de abril de 2011

A MEDITAÇÃO

Acima de tudo é necessário aprender a viver de instante em instante, saber aproveitar cada
momento, não dosear o momento. A momentaneidade é característica especial dos gnósticos. Nós amamos a filosofia da momentaneidade.
Em certa ocasião perguntaram ao Mestre Nansen:
-O que é o TAO?
-A vida Comum!
-Como se faz para viver de acordo com ela?
- Se tratas de viver de acordo com ela, fugirá de ti. Não trates de cantar esta canção, deixa que ela mesma cante. Por acaso o humilde soluço não vem por si só?
Recordai esta frase: "A Gnose vive-se nos fatos, murcha nas abstracções, e é difícil de encontrar mesmo nos pensamentos mais nobres".
Perguntaram ao Mestre Bokujo: - Teremos o que vestir e comer todos os dias? Como poderíamos escapar de tudo isto?
O Mestre respondeu:
- Comendo, vestindo-nos.
- Não compreendo - disse o discípulo.
- Então, vista-se e coma - disse o Mestre.
Esta é, precisamente, a acção livre dos opostos. Comemos? Vestimo-nos? Por que fazemos disso um problema? Porque pensar noutras coisas enquanto estamos comendo ou vestindo?
Se está a comer, coma, e se está a vestir, vista-se, e se está andando pela rua, anda, anda, anda, mas não pense noutra coisa, faça unicamente o que está fazendo, não fuja do que está fazendo, não fuja dos factos, não os encha de tantos significados, símbolos, sermões e advertências. Viva-os sem alegorias, viva-os com mente receptiva de instante em instante.
Esta tensão contínua da mente, esta disciplina contínua, leva-nos ao despertar da consciência. Se estamos a comer e a pensar em negócios, é claro que estamos sonhando. Se estamos a conduzir um automóvel pensando na namorada, é lógico que não estamos despertos, estamos sonhando. Se estamos a trabalhar e estamos a lembrar-nos do compadre ou da comadre, do amigo ou do irmão, etc., é claro que estamos sonhando.
É terrível o esforço e a vigilância que se necessita de segundo em segundo, de instante em instante, para não cair em sonhos. Basta um minuto de descuido e a mente já está sonhando ao recordar-se de algo, ao pensar em algo diferente do trabalho ou do fato que estamos vivendo no momento.
A TÉCNICA
Quando praticamos a meditação, a nossa mente é assaltada por muitas lembranças, desejos, paixões, preocupações, etc.
Devemos evitar o conflito entre a atenção e a distracção. Existe conflito entre a distracção e a atenção quando combatemos contra esses assaltantes da mente. O Eu é o projector de tais assaltantes mentais. Onde há conflito não existe quietude nem silêncio.
Devemos anular o projector mediante a auto-observação e a compreensão. Examinem cada imagem, cada lembrança, cada pensamento que chegue à mente. Recordem que todo pensamento tem dois pólos: positivo e negativo.
Entrar e sair são dois aspectos de uma mesma coisa. O refeitório e a casa de banho, o alto e o baixo, o agradável e o desagradável, etc., são sempre os dois pólos de uma mesma coisa.
Examinem os dois pólos da cada forma mental que chega à mente. Recordem que só mediante o estudo das polaridades se chega à síntese.
Toda forma mental pode ser eliminada mediante a síntese.
Exemplo: Assalta-nos a lembrança de uma namorada. É bela? Pensemos que a beleza é o oposto da feiura e que, se na sua juventude é bela, na sua velhice será feia. Síntese: Não vale a pena pensar nela, é uma ilusão, uma flor que murchará inevitavelmente. Na Índia, esta auto-observação e estudo da nossa psique são chamados, propriamente, Pratyâhâra.
Os pássaros-pensamentos devem passar pelo espaço da nossa própria mente em sucessivo desfile, mas sem deixar marca alguma. A infinita procissão de pensamentos projectados pelo Eu no fim esgota-se e, então, a mente fica quieta e em silêncio.
Um grande Mestre auto-realizado disse: «Somente quando o projector, isto é, o Eu, está ausente por completo, então sobrevém o silêncio que não é produto da mente. Este silêncio é inesgotável, não é do tempo, é o incomensurável, só então advém aquilo que é».•
Toda esta técnica se resume em dois princípios:
1. Profunda reflexão.
2. Tremenda serenidade.
REFLEXÃO SERENA
Necessitamos reflexão serena se é que de verdade queremos conseguir a quietude e o silêncio absoluto da mente.
Entretanto, resulta claro compreender que no gnosticismo puro os termos serenidade e reflexão têm significados muito mais profundos e, portanto, devem ser compreendidos dentro das suas conotações especiais.
O sentimento de sereno transcende isso que normalmente se entende por calma ou tranquilidade, implica um estado superlativo que está além dos raciocínios, desejos, contradições e palavras, designa uma situação fora do alvoroço mundano.
Assim mesmo, o sentimento de reflexão está além disso que sempre se entende por contemplação de um problema ou ideia. Não implica aqui actividade mental ou pensamento contemplativo, mas sim uma espécie de consciência objetiva, clara e transparente, sempre iluminada na sua própria experiência.
Portanto, "sereno" é aqui serenidade do não-pensamento, e "reflexão" significa consciência intensa e clara. "Reflexão serena é a clara consciência na tranquilidade do não-pensamento".
Quando reina a serenidade perfeita, consegue-se a verdadeira iluminação profunda.
PASSOS A SEGUIR
Vamos completar a Técnica da Meditação com os passos que deverão se seguir e que o Mestre nos entregou nas Dez Regras da Meditação. A ordem não é exactamente igual e a única coisa que fizemos foi adequar cada uma dessas regras a uma ordem didáctica.
Todo estudante sério que pretenda aprofundar o campo do Auto conhecimento deve valorizar e apreciar estas regras, praticando-as com responsabilidade, pois é a única forma de aprender a meditar.
PRIMEIRO PASSO:
Relaxamento absoluto de todo o corpo. É imprescindível aprender a relaxar o corpo para a Meditação, nenhum músculo deve ficar em tensão.
É imprescindível, necessário, praticar sempre com os olhos físicos fechados a fim de evitar as percepções sensoriais externas. É urgente eliminar as percepções sensoriais externas durante a meditação interior profunda.
SEGUNDO PASSO:
Fazer-nos plenamente conscientes do estado de ânimo em que nos encontramos antes que surja qualquer pensamento.
O princípio base, fundamento vivo do Shamadhi, consiste no prévio conhecimento introspectivo de si mesmo. Introversão é indispensável durante a meditação a fundo. Devemos começar por conhecer profundamente o estado de ânimo em que nos encontramos, antes que apareça no intelecto qualquer forma mental.
É urgente compreender que todo pensamento que surge no entendimento é sempre precedido por dor ou prazer, alegria ou tristeza, gosto ou desgosto, etc.
TERCEIRO PASSO:
Observação Serena. Observar serenamente nossa própria mente, pôr atenção plena em toda forma mental que apareça na tela do intelecto."Tratar de observar a mente sem interrupção".
QUARTO PASSO:
Mantralização ou Koan. O intelecto deve assumir um estado psicológico receptivo, íntegro, uni total, pleno, tranquilo e profundo.
Os objetivos da Mantralização ou Koan são:
• a) Mesclar dentro do nosso universo interior as forças mágicas dos Mantrams ou Koans.
• b) Despertar consciência.
• c) Acumular intimamente átomos crísticos de altíssima voltagem.
Com os Mantrams e com os Koans ou frases que descontrolam a mente consegue-se o estado receptivo unitotal.
QUINTO PASSO:
Psicanálise. Examinar, indagar, pesquisar a raiz, a origem, a causa, razão ou motivo fundamental de cada pensamento, lembrança, afeto, emoção, sentimento, imagem, desejo, etc., conforme vão surgindo na mente.
Nesta etapa será necessária a sábia combinação da meditação com o sono. É urgente provocar e graduar o sono à vontade. Da sábia combinação de sono e meditação resulta isso que se chama Iluminação.
Desta forma vai se aprofundando nos níveis ocultos da mente, conhecendo os recursos íntimos dos nossos pensamentos, sentimentos e ações.
RECOMENDAÇÕES ESSENCIAIS
1. Deve existir continuidade de propósitos na técnica da meditação, tenacidade, firmeza, constância, insistência. As pessoas inconstantes, volúveis, versáteis, mutáveis, sem firmeza, sem vontade, jamais poderão conseguir o Êxtase, o Satori, o Shamadhi.
2. Será agradável, interessante, assistir cada vez que se possa a exercícios nas salas de meditação. É óbvio que a técnica da meditação científica pode ser praticada tanto de forma individual e isolada como em grupos de pessoas afins.
REQUISITOS NA ATIVIDADE DIÁRIA
1. Devemos tratar de recordar, rememorar, essa "sensação de contemplar" de momento em momento durante o curso comum e corrente da vida diária. Devemos converter-nos em espiões da nossa própria mente. Contemplá-la em acção de instante em instante.
2. É peremptório, urgente, necessário, converter-nos em vigias da nossa própria mente durante qualquer actividade agitada, revolta, deter-nos sequer por um instante para observá-la. A Essência deve liberar-se do corpo, dos afetos e da mente. Resulta evidente, notório, patente, que ao emancipar-se, ao libertar-se do intelecto, se liberta de todo o demais.

*Texto de autor que desconheço

JFM Lisboa-PORTUGAL

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