quinta-feira, 23 de junho de 2011

UM AMOR VERDADEIRO


Manhã agitada; 8:30. Um senhor que aparenta cerca de 80 anos dirige-se a mim, que acabara de entrar, para que lhe tirasse de um polegar dois pontos. Diz-me que está com muita pressa porque tem um outro compromisso às 9.OO. Fiz-lhe os procedimentos habituais; verifiquei a sua tensão, outros sinais vitais e pedi-lhe que aguardasse sabendo de antemão que aquela espera ia ser de mais de uma hora, antes que algum médico o pudesse atender. Vi-o olhando de repetidamente o relógio com ansiedade. Como durante o exame tinha comprovado que a ferida estava sarada, pedi a um dos médicos que lhe retirasse os pontos. Assim se fez. Durante os procedimentos, perguntei-lhe se tinha outra consulta marcada para aquela manhã, já que o via tão apressado. Disse-me que não, que penas tinha que ir á geriatria para tomar o pequeno-almoço com a sua mulher. Indaguei então pelo estado de saúde dela. Respondeu-me que já havia algum tempo que ali estava internada e que padecia de Alzheimer. Em tom conciliador disse-lhe que assim sendo, ela não se iria aborrecer pelo seu atraso. Respondeu-me que na verdade fazia mais de 5 anos que ela o deixara de reconhecer.
Surpreendeu-me. Perguntei-lhe: “E apesar não o reconhecer porque continua a encontrar-se com ela todas as manhãs?”
Acariciou-me a mão, sorriu e disse-me em jeito de despedida:
- Ela não sabe quem eu sou, mas eu sei quem ela é.
Arrepiei-me e tive que conter as lágrimas. Quando ele se afastava pensei: É este tipo de Amor que quero na minha vida. O Verdadeiro Amor não é físico nem sequer romântico. O Amor Verdadeiro é a aceitação de tudo o que é, foi, será e não será.
Gente mais feliz não é necessariamente quem tem o melhor de tudo; mas sim quem faz tudo, o melhor que pode.
A vida não é sobreviver à tempestade, mas sim dançar debaixo de chuva.


JFM - Lisboa - Portugal

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