Os Iniciados sempre esconderam, daqueles que os perseguiam, o
conhecimento de muitas formas e nas múltiplas formas de arte. Desde a musica à
pintura, à dança passando pela escrita. Escritas simples, narrativas singelas
ou, como neste conto da autoria dos irmãos Grimm“ O Flautista de Hamelin”, numa história para crianças. No entanto os mais
despertos sempre podiam neles entender o seu conteúdo antropológico,
psicológico ou metafísico. Não muitas vezes sem consequências, já que a sua
proibição era levada a cabo pelas autoridades eclesiásticas atentas a tudo o
que punha em causa os seus dogmas e crenças com que dominavam e exerciam – e
continuam a exercer - o poder. Por exemplo, no norte de África tinha-se a “crença”
de que contar estes contos em horas diurnas era arriscar-se a que lhe caísse o
cabelo. Noutros lugares, só se podiam contar em época de colheitas, mas, na
maioria dos casos, o modo mais seguro e tradicional era à noite, junto da
lareira e com as portas e janelas fechadas.
A popularidade dos contos de fadas e a aceitação que sempre tiveram
em qualquer país do mundo e através das diversas culturas que se foram
sucedendo durante milhares de anos, demonstram que têm muito que ensinar, não
só aos meninos, mas também ao adultos, segundo seus diferentes níveis de
entendimento e interesse.
O FLAUTISTA
DE HAMELIN
A lenda diz assim: «A cidade dentro de suas muralhas tinha sido invadida
por milhares de ratos que a cada dia proliferavam mais, ameaçando as sementes
dos agricultores e os alimentos do povo.
As autoridades dominantes ofereceram 100 moedas de ouro e uma noiva a
quem livrasse a cidade daquela calamidade. Um flautista, que nunca tinha sido
visto naquelas paragens candidatou-se à tarefa…
Tocou então a sua flauta e por todos os cantos e recantos da cidade e
os ratos saindo dos seus esconderijos seguiram-no até o rio vizinho onde todos
se afogaram. Ao regressar pela recompensa e a noiva, os habitantes pagaram-lhe
com ingratidão, avareza e desprezo:
-“ A única coisa que fizeste foi tocar a flauta, só daremos uma
moeda”, disseram-lhe...
O flautista partiu prometendo voltar, pensando que deveria salvar as
crianças da maldade daqueles adultos; regressou um 26 de Junho e tocou novamente
a flauta, com um canto doce e maravilhoso. Todos os meninos lhe seguiram, 130
ao todo, nascidos em Hamelin, levando-os pela mão até às montanhas onde
desapareceram num lugar perto de Koppen, só um menino cego, um paralítico e um
surdo, ficaram pelo caminho.
Pelo estudo através da Antropologia Psicanalítica Gnóstica é possível
compreender mitos e lendas, extrair seu ensino para além de moralismos e
crenças...
Em primeiro lugar devemos notar o paralelismo da primeira parte da
lenda com o Quarto Trabalho de Hércules na mitologia grega «A limpeza dos estábulos
de Augías». Mas deixemos isso para outra ocasião e passemos à transposição
psicológica:
A Cidade Amuralhada
O Reino. - A
Consciência ou o Ser.
Os Ratos.- O Ego multifacetado,
agregados psíquicos, alheados da consciência que nos invadem e proliferam.
Sementes e
Agricultores. - A Semente, Energia Criadora e Órgãos Criadores.
Promessa do
Ouro. - Corpos de Ouro do Homem Solar.
Flautista. - O Cristo
Íntimo
A Flauta. - Símbolo
fálico
O Rio. - As Águas
Genéticas.
Cantos e Recantos. - Os recônditos
da Mente e os Níveis Subconscientes.
Ingratidão e
Incompreensão. - Os Cristos sempre são desprezado por Poderosos, Escribas, Sacerdotes
e Multidões.
O regresso
do Flautista .- Segunda vinda do Cristo.
Salvar os meninos. -
Sacrifício pela Humanidade.
Os Meninos. - Almas
Puras ou Purificadas.
130 Meninos. - O Arcano
13.- Morte e Imortalidade.
Montanhas. - Os Céus,
o Nirvana, as Supra dimensões.
Cegos. - Vendo
não vêem, nem entram nem deixam entrar.
Surdos. - Aqueles
que não querem escutar a mensagem de salvação.
Paralíticos. - Os
incapazes de andar o Caminho, a Senda do Fio da Navalha.
O nosso interior está cheio de multiplicidades, de defeitos psíquicos
que saqueiam as energias dos Centros de nossa Máquina Humana incluindo
a Energia Sexual. Eliminá-los da nossa psique precisa de uma análise
séria e profunda ao nosso subconsciente em todos seus níveis e requer também
das transmutação das Águas Seminais, para conseguir, não só a Morte
Psicológica, mas também a criação dos Corpos de Ouro ou o Segundo Nascimento. O
Cristo Íntimo nasce e desenvolve-se no nosso interior, sacrificando-se pela
humanidade, sempre incompreendido pelas multidões, e no entanto, ele sempre nos
conduz, mostra o caminho e leva-nos pela mão, pelo Caminho Recto, que faz
chegar à Luz. Para atrás ficam os cobiçosos, avarentos, ingratos e os que não querem
ver, escutar nem seguir o Cristo. Espera-os o choro e o ranger de dentes...
JFM - Lisboa - Portugal