Não é novidade a briga entre as duas correntes: a dos que lutam para provar de todas as formas a inexistência de Deus e, a dos que fanaticamente brigam para dizer com todas as vozes que Deus existe e vai castigar todo mundo, se não nos arrependermos de nossos pecados.
No meio desse embate estão alguns poucos que sentem falta de algo em si. Sentem que vida não é só um nascer, crescer, “criar juízo”, casar e depois morrer. Acham que o ser humano poderia se transformar em algo mais digno, mais elevado. Dizem alguns filósofos, como por exemplo, Deepak Chopra, que para chegar à perfeição basta entrar em meditação e se autoconhecer. O problema é que essa busca por esse “algo a mais” pode ser taxada como coisa de idiotas.
Idiota
é uma palavra muito interessante e já foi diagnosticada por vários escritores. Um
dos mais interessantes casos de imbecilidade crônica foi apontado por François
Rabelais, no século 16: a idiotice doutoral dos “eruditos”. Esse tipo de idiota
insiste em usar palavras sofisticadas para falar sobre o nada e é especialista
em fazer com que ninguém o entenda. Um deles queria saber se “a frigidez
hibernal dos antípodas, passando numa linha ortogonal através da homogênea
solidez do centro, podia, por uma delicada antiperístase, aquecer a convexidade
dos nossos calcanhares”.
O
que é ser inteligente, então? É por acaso falar coisas absurdas e
ininteligíveis – o famoso: “falar bonito”?
É, por acaso, acumular informações em nosso pequeno cérebro e repeti-las
como um papagaio, mesmo que não sejam nossas, com pose de erudito e olhar de
sabichão? Talvez, inteligência seja um apanhado de consciência daquilo que se
é, de onde se está e do que se sabe. Se for assim, há muitas formas de ser
inteligente. Quem sabe por isso Sócrates, o homem mais sábio da Grécia,
explicou: “Eu e os homens notáveis de Atenas nada sabemos. A única diferença
entre eu e eles é que eu, nada sabendo, sei que nada sei, enquanto que eles,
nada sabendo, pensam que sabem muito”.
Essa
busca por esse “algo a mais” faz parte da condição humana. Até mesmo Sócrates
buscava o belo inspirado em um modelo divino. Aqueles que negam o princípio
inteligente chamado Deus, o vêm no “Deus ciência” e buscam nela a resposta para
suas inquietudes.
O
fato é que talvez o idiota esteja mais perto de encontrar as soluções para suas
inquietudes do que o erudito. Porque o erudito, o ignorante ilustrado, pensa
que sabe muito. Pensa que é um gênio, um sábio, quando na verdade “não só
ignora, como ignora que ignora”.
O idiota, em sua sabia ingenuidade, possui
uma ânsia de querer ser melhor. E é nessa ingenuidade que está sua sabedoria: a
capacidade de poder capturar o belo da vida, de si e dos princípios
inteligentes da natureza. Na ânsia por encontrar a transcendência, o idiota não
cria filosofias complicadas sobre o criador, nem pensa sobre ele, simplesmente
fecha os olhos e tenta senti-lo dentro de si...
Bendito sejam os idiotas...
Paulo de Siqueira
Curitiba - Brasil
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