quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A CRIAÇÃO SEGUNDO O POVO JIVARO DO EQUADOR (AMAZONAS)

Falando de cosmogénese, as diferentes culturas do mundo oferecem a sua sabedoria ancestral através de relatos, escritos, lendas ou mitos que, à luz da Gnose, expressam uma série de constantes extraordinárias, de grande similitude apesar das distâncias e épocas que as separam; mostram símbolos com um ensinamento esotérica implícito, largamente reconhecida pela antropologia gnóstica.
É inusitado descobrir que em diferentes latitudes do mundo, o ensino gnóstica se encontra em tribos aparentemente ignotas como a dos Jívaros ou Shuar na zona amazónica do Equador, que veneravam a natureza e as forças que a regem, como Tsunki, divindade da água, Nunkui, a Mãe Terra, Shakaim regente dos homens e Etsa como força do equilíbrio.
Os habitantes desta zona equatoriana conservaram sempre a sua autonomia ao nunca se deixarem conquistar por incas nem por espanhóis e relatam a origem do mundo da seguinte maneira:
“A terra, ao princípio, estava nua e fria. Yus, o deus criador, pensou em vestir a terra seca com árvores gigantes e pequenas plantas. Entre os ramos o vento assobiava, o que recordou a Yus que precisava povoar a sua criação com pequenos animais que assobiassem como o vento. Criou assim pequenos animais, como as moscas e outros insetos, serpentes que também assobiavam e os pássaros. Mas estes pequenos animais que saltavam de ramo em ramo, morriam de sede.
Então deu-se conta de que estes não tinham água, pelo que tomou um jarro de ouro e derramou o líquido sobre as copas das árvores, formando-se entre eles os primeiros mananciais e depois enormes rios, povoando-os de imediato de inumeráveis peixes.
Olhou então o céu e, lançando o seu lenço às alturas, cobriu o céu aparecendo então o sol, a lua e as estrelas.
Mas Yus não estava satisfeito com a sua criação, já que as suas criaturas eram demasiado simples para compreender a grandeza da sua obra, pelo que tomou um punhado de barro e modelou uma figura de homem. Depois subiu a um grande vulcão e sobre a sua cratera se coseu o homem. Yus deu um sopro sobre a figura para arrefecer o corpo, dando-lhe assim a vida e inteligência para que se estendesse pela terra”.

A leitura deste relato, inevitavelmente rememora o génesis hebraico com os seus sete dias da criação. Neste caso, Yus é a representação de Deus, que cria a Terra, só que a princípio estava fria. Certamente estas afirmações referem-se não somente ao aspeto macrocósmico da criação, senão também ao microcósmico, pois tal como é acima é abaixo.
Utilizando esta alegoria, o microcosmos homem, recebe por graça divina, um corpo físico, o qual contém uma psiquis desordenada e vazia, já que carece de alma, uma vez que somente possui dela uma essência ou fração que deve desenvolver, tendo também a mente fraccionada e imprecisa, a qual obedece a instintos e desejos. A Terra está nua ao princípio porque o corpo físico não possui as vestimentas da alma (corpos solares).
Deus criou árvores e plantas, além de animais para povoar a Terra, isto é, o ser humano quando acorda a consciência, cria vida no seu interior, os elementos concientivos que frutificam em valores, ética e sabedoria. No entanto, a Terra está seca e requer água, a vida alimenta-se com o líquido vital, que no ser humano representa a energia criadora proveniente das gónadas. Matéria criada pelo mesmo Yus e que o indivíduo deve transmutar para o permitir ascender como energia subtil (proveniente do jarro de ouro) através de canais ocultos na ultra fisiología do corpo físico e que a conduzem desde as gónadas até o cérebro para chegar posteriormente ao coração. Essa energia criadora transmutada com vontade e imaginação através de exercícios de entrega à sabedoria gnóstica, faz frutificar a árvore da vida e a árvore da ciência do bem e do mal; e a semente da sabedoria germinará no interior do ser humano.
Posteriormente criou Yus lhe céu, o Sol, a Lua e as estrelas, símbolo das dimensões superiores da natureza do homem. Os céus representam os estados de consciência superiores do ser humano, os níveis superiores do Ser. No entanto a obra de Yus não termina aí, o nosso Deus interior procura a criação do Homem, para o qual é necessário que o indivíduo elimine da sua psiquis os elementos egóicos, e assim adquira a capacidade de dominar os animais e as criaturas do seu mar interior; isto é, que se converta em rei e senhor da sua própria natureza, no “homem vivente”, o homem do sexto dia da criação, feito a imagem e semelhança de Deus, o Homem que se integrou com a divindade, o Mestre Ressurrecto.
O homem autêntico foi feito de barro, material que suporta o fogo da criação e é dotado de divindade mediante o sopro celestial, o hálito de vida. Assim, para nos podermos transformar em homens feitos a imagem e semelhança de Deus, precisamos de um “Choque” especial, que é o conhecimento esotérico crístico. No início, o homem físico precisa de um “choque” físico, que é o do ar que respira no momento de nascer. Depois, o homem físico precisa de um segundo “choque” especial, necessita de alguém que o ensine, precisa receber a luz do esoterismo para que se possa transformar a si mesmo. Finalmente, precisará um terceiro “choque” para que possa converter-se num homem à imagem e semelhança de Deus, trabalhando com a energia criadora e a eliminação dos agregados psicológicos.
Por isso, é importante entender que enquanto não se eliminarem os “elementos indesejáveis” da psiquis, obviamente se vai mal.

“Aqueles que pensam que se podem progredir sem eliminar os “elementos indesejáveis” do sua psiquis, estão equivocados, totalmente equivocados”. (Samael Aun Weor)

Texto publicado na “Revista Ser nª 51, traduzido e adaptado.

JFM - Lisboa - Portugal

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