Um dos sacratíssimos cultos que se desenvolveu dois mil anos antes da chegada do Venerável Mestre Aberamentho, ou Grande Kabir Jesús de Nazaret, foi claramente o dos Mistérios de Eleusis ou Eleusinos.
Pouco se sabe destes Mistérios, porque aqueles que ali eram iniciados juravam sobre sua própria vida não divulgar jamais o que recebiam. No entanto, graças à Gnose, algo chegou até nós.
Sabemos, por exemplo, que esses Mistérios tinham como base o Mito de Deméter e da sua filha Perséfone. Há a acrescentar, o que afirma muito sabiamente um escritor esoterista chamado Mircea Eliade a esse respeito, dizendo que ele era a verdadeira origem das histórias iniciais, portanto, tal Mito, é no fundo a verdadeira história, e não aquilo que os historiadores nos trazem mais tarde de maneira tergiversada.
Segundo esta lenda, mito ou história, Deméter, que era a Deusa da fertilidade, da fecundidade, da beleza, ou a forma de Deus Mãe, tinha uma filha muito bela chamada Perséfone, que enviou à Terra, cheia de regozijo, para que conhecesse o mundo dos homens. Para que conhecesse o mundo material. E a história diz-nos que encontrando-se Perséfone percorrendo os caminhos da antiga Grécia, ficou enfeitiçada por umas flores de narciso que a tinham atraído. Acercou-se, viu a beleza delas e aspirou o seu aroma a tal ponto, que isso lhe produziu um êxtase. Mas nos precisos instantes em que tal ocorria, a terra abriu-se, e das entranhas do nosso mundo apareceu o Senhor dos Infernos, Plutão, o senhor do Hades, do Tartarus, que sobre sua carroça e, num acto de ousadia, tomou a Perséfone raptou-a e, ainda que ela resistisse, levou-a para a sua morada plutónica.
Quando Deméter soube do desaparecimento da filha, encheu-se de angústia, enorme tristeza e pesar. E então a Terra começou a tornar-se estéril, a agonia de Deméter produzia no nosso mundo a infertilidade, a morte e a desolação. Ela não vacilou em vir à terra a procurar desesperadamente a sua filha. Procurou-a por muitos lugares e não a encontrava. Dizem algumas crónicas esotéricas que ela, durante o dia, ia a todos os rincões do mundo procurando a sua filha muito amada, e pelas noites, continuava com o auxílio de duas tochas: sendo uma representação da intuição e a outra da razão superior. É curioso que, se Deméter representa Deus Mãe, a nossa Bendita Madre Interior, Perséfone, obviamente, é a nossa alma, a nossa Essência, qual a mesma Pistis Sophia caída em desgraça no mundo das formas. Inquestionavelmente, quando o Eu, a escuridão, a sombra, Plutão, ou as forças do inferno nos aprisionam, ela, Deméter, perde-nos, mas nunca desiste e contínua durante séculos e séculos e mais séculos a sua procura através de intuições que envia ao nosso coração, anseios intuitivos que nos põe no nosso profundo íntimo e nos auxiliam também, mediante perguntas que se relacionam com o intelecto superior e não com a razão subjectiva e mental: Quem sou? Porque existo? De onde provem a Criação? De onde venho e a para onde vou no dia que desencarnar ? Qual é meu destino final? etc., etc. Assim como Deméter procurava a sua filha, também nos procura a nós com a tocha da intuição e da razão objectiva ou da razão superior.
Diz a lenda que Deméter descansava às vezes num lugar a que davam o nome de Eleusis. E essa pequena cidade contínua a existir hoje a 20 quilómetros de Atenas.
Tão grande era o sofrimento de Deméter que Zeus - seu esposo - decretou no Olimpo, que Perséfone tinha que ser encontrada fosse como fosse. Mandou então chamar Mercúrio. O Deus Mercúrio, que com asas nos pés e no seu elmo, representa a sabedoria; veloz, apresentou-se e foi incumbido da tarefa de resgatar Perséfone.
Mercúrio, primeiro procurou sobre a face do mundo e não a encontrou.
Como era omnipresente, viajou ao inframundo, o mundo subterrâneo, e para sua surpresa, encontrou a Perséfone com o mesmíssimo Senhor dos Infernos: Plutão. Este, tinha sido muito astuto e tinha-se casado com ela, para obrigá-la, como esposa, a permanecer com ele. Para cúmulo dos cúmulos tinha selado esse pacto fazendo-a comer seis grãos de fruto. Indubitavelmente que com aquele pacto ela estava sob a sua tutela.
A terra, fecunda, floresce e frutifica, mas quando Perséfone abandona a sua mãe, a terra é dura e seca, moribunda. Assim era como os gregos entendiam a razão de ser de um tempo do ano em que a terra dá frutos, e a outra temporada em que a terra está coberta de frio e neve. Para os gregos havia apenas duas estações e não quatro como hoje em dia: tinham uma estação fria e húmida, e havia uma estação seca e calorosa. Assim ficou registado em todos os eventos na mitologia.
Aqueles seis grãos que havia comido Perséfone, determinavam seis meses de luz e seis meses de escuridão, seis meses na superfície e seis meses no inframundo.
O que quer dizer que quando nossa alma está unida a nossa Mãe Interior somos felizes. A nossa Terra Filosofal faz-se fecunda, frutifica em nós e na nossa anatomia interior; o Espírito Real do cada um de nós sente-se glorificado quando estamos unidos a Stella Maris. Mas quando perdemos o contacto com nossa Mãe Interior, não só experimentamos os horrores do Abismo, como ficamos rodeados de frio, vivemos no limbo, aí onde só há o choro e o ranger de dentes.
Tudo isto foi possível porque, ao ver aquele quadro, Mercúrio, que era conhecido pela sua eloquência, entabulou um diálogo com o Senhor do Hades, e conseguiu convencer Plutão para que libertasse Perséfone. Plutão fez uma imposição: «A Minha condição — disse ele— é que ela esteja com sua mãe na superfície do mundo seis meses, os nos outros seis meses terá que estar comigo».
E assim sucedia, segundo a tradição esotérica: de cada vez que Perséfone está longe de sua Mãe, a terra adoece e a morte é soberana em todos os sentidos.
Mas tal como Perséfone nós também temos um grande aliado: Mercúrio.
«Que seria de nós - diziam os alquimistas medievais - sem mercúrio?
Felizmente Deus deu-nos o mercúrio - diziam eles - e com ele podermos encontrar de novo o Caminho de volta à grande Luz».
JFM - Lisboa - PORTUGAL
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