quinta-feira, 3 de maio de 2012

ABRAXAS

Fazendo uma investigação sobre a palavra "Abraxas" descobrimos que a grande Mestra e esoterista Helena P. Blavatsky diz-nos que se trata de uma palavra mística que se remonta a Basílides, o Pitagórico de Alejandría, no ano 90 após Cristo. Basílides empregava a vocalização Abraxas como invocação. Dizia que era uma divindade suprema entre as sete principais, e que estava dotada de 365 virtudes. Isto era algo simbólico que tem a ver com a numeração grega: 



a = 1 
b = 2 
r = 100 
a = 1 
x = 60 
a = 1 
s = 200 
TOTAL 365

 Isto é, a soma dos valores numéricos que atribuíam à cada letra da palavra Abraxas forma um total de 365, que correspondia aos 365 dias do ano solar, ou o que tanto faz, a um ciclo de acção divina", o conjunto das 365 manifestações sucessivas atribuídas a Deus num ano. Outros autores como C. W. King, autor do livro "Os Gnósticos", consideram a palavra Abraxas similar à hebreia "Shemahamphorasch" que é uma palavra sagrada do extenso nome de Deus. A grande autoridade maçónica Oliver relaciona o nome de Abraxas com o de Abraham. Noutras latitudes, também aparece o nome de Abraxas e acredita-se ser ele cópia das palavras hindu "Abhimanin" (o filho primogénito de Brahma) e "Brahma" combinadas. Por outro lado, segundo  Hans Leisegang, livro "A Gnose", Abraxas identifica-o com Mitra; diz que é o mediador entre a humanidade e o único Deus, o Sol invencível, que se venerou na antiguidade pelos séculos III-IV. Este Abraxas-Mitra, tem origem persa, é o mediador entre Ahuramazda e Ariman, isto é entre o Bem e o Mal. Também não podemos esquecer a presença de Abraxas na Teurgia; como palavra mágica relacionada com o Abracadabra que provem da frase hebreia: "Abreq ad hâbra" que significa: "Envia o teu raio até a morte". A este respeito H. P. Blavatsky diz-nos que "Abracadabra" é um termo posterior à voz sagrada de "Abraxas" que, por sua vez, deriva de uma sagrada e antiga palavra copta ou egípcia, a qual seria uma formula mágica que significava simbolicamente: "Não me danifiques", e se dirigia à divindade. Escrevia-se num amuleto ou talismã que se trazia ao pescoço debaixo ou por fora da roupa. As pedras Abraxas que eram usadas pelos gnósticos, eram gemas que tinham inscrita essa palavra grega que se usavam como talismã. Os amuletos converteram-se em objectos tão comuns entre os cristãos que no século IV foram proibidos tanto a sua fabricação como seu uso, sob pena de ser expulso da ordem sagrada à que se pertencesse. As gemas Abraxas representavam, geralmente, um corpo humano com cabeça de galo, que numa mão levava um escudo, na outra um chicote e duas serpentes no lugar de pernas. Às vezes, aparecia com outras figuras fantásticas como uma cabeça de leão, elefante, serpente, etc. Em algumas gemas surge com as letras I. A. O. que designam à divindade. Estas letras, na realidade, estão contidas na palavra GALO ou GAIO. O V. M. Samael Aum Weor desvenda-nos o mistério do Abraxas. Explica-nos que aquele que recebe a iniciação venusta encarna a sua estrela. Esta estrela crucificada na cruz é o Cristo dos Abraxas. Fala-nos também o Mestre do significado da duplicidade da serpente que forma as patas do galo solar dos Abraxas. Uma é a serpente ascendente, a serpente de cobre de Moisés, a outra é a serpente descendente. Todo o trabalho da Grande Obra consiste em desprender dos anéis encantados a serpente sedutora; domá-la, vencê-la, pôr-lhe o pé sobre a cabeça, e levanta-la pelo canal medular, para abrir as sete igrejas. As duas serpentes que se enroscam no caduceu de Mercúrio, no ser humano normal e corrente são: a serpente direita que ascende, enquanto a esquerda desce para os nossos próprios infernos atómicos, para a satisfação animal. Antes do homem ter saído do Éden as duas serpentes estavam levantadas sobre a vara, tal como nos anjos que têm nos seus dois pólos de força sexual; masculino e feminino, fluindo para acima, para a cabeça. Actualmente, os seres humanos têm sua energia sexual dividida: enquanto a corrente solar masculina positiva ascende, a energia negativa feminina lunar desce. Há que levantar o pólo negativo da nossa força criadora. As duas serpentes devem fluir para acima, para a cabeça como nos anjos. No livro "Curso Esotérico de Kábala" do V. M. Samael, em seu capítulo VI, podemos ler: A chave encontra-se na Serpente, as patas de Galo dos Abraxas é uma dupla serpente. Existem a serpente tentadora do Edén e a serpente de cobre de Moisés entrelaçadas no Tau, isto é, no lingam sexual. A serpente normalmente está encerrada no chacra Muladhara (Igreja de Éfeso). Ela dormita nesse centro coccígeo. A serpente deve inevitavelmente sair de sua Igreja. Se sobe pelo canal medular, convertemo-nos em anjos. Se baixa até os infernos atómicos converte-nos em demónios. Agora compreendereis porque a serpente do caduceu é sempre dúplice, a força sexual é o Hilé dos gnósticos." Noutra passagem de outro livro diz: "O alma acha-se entre dois caminhos, o da luz ou o das trevas e o problema é absolutamente sexual. A chave encontra-se na serpente sagrada. O galo representa o I. A. O., o Verbo, a palavra." O ABRAXAS dos gnósticos é o INRI dos cristãos, o TAO chinês, o ZEN budista... 
Para finalizar com este aspecto faremos menção de um escrito de Carl Gustav Jung, que se inspirou em Basilides de Alejandría, e se intitulava "Os sete sermões aos mortos" ou "Septem Sermones ad Mortus". Este texto era presenteado em certas ocasiões aos seus amigos, mas nunca permitiu que o publicassem. Jung colheu dos gnósticos o pensamento paradoxal, utilizando terminologia como a palavra Abraxas para denominar à divindade. Jung, finalmente, autorizou a publicação deste texto no âmbito do seu livro de memórias depois de dúvidas e só "por uma questão de honestidade", mas não permitiu que se publicasse a solução do anagrama que se encontra ao final do sétimo sermão. Extraímos alguns parágrafos destes sete sermões aos mortos no que se refere concretamente ao Deus Abraxas.  Dizem assim: 

"Este é um Deus do que vocês nada sabíeis, pois os homens esqueceram-no. Denominamos o seu nome: ABRAXAS.

 É ainda mais indeterminado: Deus e Diabo. Para diferenciar Deus dele, chamamos-lhe Deus Helios ou Sol.

Abraxas é acção, frente a ele não há nada senão o irreal, por isso a sua natureza ativa desliga-se livremente.

Abraxas está acima do Sol e acima do Diabo...

Se o Pleroma tivesse uma essência, Abraxas seria a sua manifestação... É força, duração, transformação.

Os mortos avançaram entre o nevoeiro através dos pântanos e gritaram: Fala-nos mais sobre o supremo Deus!

Abraxas é um Deus dificilmente reconhecível, o seu poder é o supremo, pois o homem não o vê.

Do Sol vê o Summum Bonum, do diabo e o lnfinitum Malum, de Abraxas. No entanto, a Vida indeterminada em todos os aspectos é a mãe do bem e do mal.

A vida parece ser mais pequena e mais débil que o Summum Bonum, razão pela qual resulta difícil pensar que Abraxas supere inclusive em poder do Sol, que é a fonte iluminadora de toda a força da própria vida.

Abraxas é o Sol e, ao mesmo tempo, o abismo eternamente criado pelo Vazio, do Diabo.

O poder de Abraxas é ambivalente. Vocês não o vêm pois os vossos olhos estão opostamente orientados pelo que este poder deixa de o ser.


O que Deus Sol diz é vida.

O que diz o Diabo é morte.

Abraxas, no entanto, a palavra digna e condenada, é ao mesmo tempo vida e morte. Abraxas produz verdade e mentira, bem e mal, luz e trevas na mesma palavra e no mesmo ato.

Por isso Abraxas é temível. É soberbo como o leão no instante em que vence a sua vítima. É belo como num dia de primavera. É o cheio quando se une ao vazio. É a cópula sagrada, é o amor e seu homicídio, é o santo e seu traidor. É a mais clara luz do dia e a mais profunda noite do absurdo.

Vê-lo significa cegueira, conhece-lo significa doença, rezar-lhe significa morte, teme-lo significa sabedoria, não se opor a Ele significa salvação.


Deus vive por trás do Sol, o Diabo vive por trás da noite.


O que Deus engendra a partir da luz, o Diabo o arrasta à noite. Mas Abraxas é o mundo, o seu devir e deixar de ser mesmo.


A cada oferenda ao Deus Sol, o Diabo apresenta a sua maldição. Todo quanto solicitais do Deus Sol, produz um ato do Diabo. Todo quanto creiais com Deus dá ao Diabo poder de atuação.


Este é o terrível Abraxas...


Quando o grande mundo se torna frio, a estrela alumia. Não há nada entre o homem e o seu Deus, quanto ao homem pode separar o seu olhar do espectáculo flamejante de Abraxas...


Aqui homem, ali Deus. Aqui debilidade e ausência, ali eterna força criadora. Aqui escuridão total e frio húmido, ali Sol pleno.” 

JFM Lisboa - Portugal

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