quinta-feira, 29 de agosto de 2013

MAITHUMA A RELIGIÃO DE OSIRIS



A RELIGIÃO DE OSÍRIS

Depois de estudar a religião de Mitra, agora nos toca estudar uma outra que nos confirma que todas as religiões têm uma mesma origem e fundamentalmente as mesmas têm por base o mistério do sexo.
Do meio do caos nasceu Osíris; ao nascer, ouviu-se uma voz que dizia: “O governador de toda a Terra nasceu”. Do mesmo seio ou útero nasceram Ísis, Rainha da Luz, e Tífon, Rei das Trevas. Já temos, então, a trindade fundamental.
           
Diz o Livro dos Mortos: conhece o dia em que haverá de deixar de ser (existir). Conhece seu sacrifício. “Tem poder de dar sua vida e de recobrá-la. Seu suplício é voluntário, mas ele mesmo o quis”. (Isaías LIII, 7) 
Deus está no sofrimento. Osíris é o sorriso dos que choram. Osíris está na vítima que se imola, e no grão que morre na espiga que se ceifa, no Nilo que decresce, no quarto minguante da Lua, em todo sofrimento, mas sobretudo no sofrimento humano.
 
Osíris foi homem e Deus ao mesmo tempo; realmente Deus e realmente homem. “humilhou-se sob a aparência de um escravo”.
De quem se fala assim? De Osíris?
Não, Osíris não é nada mais que a sombra do Corpo Invisível. Mas essa semelhança entre o corpo e a sombra é o mais insondável mistério do Egipto.

Nos confins do arenoso deserto da Líbia, ao fundo da grande planície semicircular de Abidos, numa estreita garganta rochosa, Peher (atualmente Ulel-Hakab), ali onde o Sol se põe, foram encontrados os túmulos dos mais antigos reis do Egipto, e, entre eles, o sarcófago de Osíris. O sábio francês Amelineau, que levou a cabo escavações em Abidos em 1897-1898, viu nas inscrições desses túmulos um testemunho tão incontestável, que acreditou haver encontrado realmente o féretro do Homem-Osíris, personagem histórica, terceiro faraó da dinastia I.

Todo o Egipto descansa na crença de que o Homem-Osíris ou Homem-Deus viveu, sofreu e morreu na terra.
A única lápide conservada refere-se a uma inscrição dos mistérios de Osíris celebrados no Santuário de Abidos: as “Paixões de Osíris” se representavam num drama, assim como as paixões de Senhor nos mistérios da Idade Média. No silêncio ressoava um grito súbito, a grande lamentação de Ísis sobre Osíris morto.

Todo o Egipto vira as costas a Osíris, que morre e olha para o Deus que ressuscita, não querendo ver o sofrimento nem a morte; mesmo sabendo que o sofrimento e a morte são divinos.
          
Um velho conto egípcio foi recolhido, milhares de anos mais tarde, por Plutarco, grego do século I-II de nossa era, grande sacerdote de Apolo em Delfos. Em seu tratado sobre Ísis e Osíris, diz:  “Em outros tempos, os deuses viviam na terra com os homens, e o grande Deus Rá, que habitava em Heliópolis (cidade do Sol), governava o Egipto.

Então a Terra não estava ainda separada do Céu, e os homens eram como deuses. Mas se perverteram, renegaram o Deus Único e disseram: ‘vede-o que envelheceu e está achacadiço. Seus ossos são como prata, sua carne como ouro e seus cabelos como lápis-lazúli (Lazulite); seus membros tremem, e a saliva mana de sua boca’. Assim os homens zombavam de Deus. E Deus se encolerizou e ordenou à deusa do Amor, Hátor, que exterminasse o gênero humano. Hátor o exterminou, mas não por completo. Deus, movido de piedade para com os homens, inundou, durante a noite, a terra com uma bebida inebriante e quando, pela manhã, a deusa entrou naquele mar, viu refletido nele seu rosto e alegrou-se de sua formosura. Provou do licor, embriagou-se e cessou de exterminar o género humano.

Mas a antiga união do Céu e da Terra ficou desfeita. E Deus disse: ‘Meu coração está cansado. Não quero viver com os homens e não quero aniquilá-los por completo’. E Deus deixou a Terra, subiu ao Céu e separou a Terra do Céu. E são, ainda hoje, como serão até o fim dos tempos. Assim acabou o primeiro mundo e começou o segundo.”
 
Quando Deus, ao subir ao Céu, abandonou os homens, estes, devorando-se uns aos outros como animais selvagens, ter-se-iam exterminado se não tivesse sobrevindo Osíris. Ele nasceu como simples mortal e, tendo chegado a ser rei do Egito, afastando os homens de sua existência bestial, ensinou-lhes a cultivar os cereais, deu-lhes leis e instituiu o culto aos deuses. Depois percorreu o mundo, proclamando seu reinado e submetendo todos os povos, não com a espada, mas com o Amor, com o canto, a música e a dança. Quando voltou ao Egipto, seu irmão Tífon-Set, com setenta e dois conspiradores, decidiu sua perdição. Tomou em segredo a medida exata de seu corpo e, baseado nela, construir um cofre magnificamente ornamentado e convidou seu irmão para um festim. Durante o ágape, os servos trouxeram o cofre. Todos os convidados se maravilharam e Tífon, como que gracejando, prometeu presenteá-lo àquele cuja estatura se adaptasse às dimensões do cofre.

Os setenta e dois cúmplices estendem-se um após outro no cofre, o qual, no entanto, não foi feito na medida de nenhum deles. Por último, o próprio Osíris se estende nele. Então investem todos sobre o cofre, fecham-no, pregam a tampa com cravos e soldam-na com chumbo derretido, levam-no ao Nilo, arrojam-no à água, e o cofre, pela boca do Tanais, vaga (deslizando suavemente até o mar).

Ísis, esposa de Osíris, andou buscando durante muito tempo o corpo de seu esposo, errante por toda a terra. Por fim o encontra e, com gritos e prantos, deixa-se cair sobre ele, aperta seu rosto contra o do morto, beija-o e rega-o com suas lágrimas. Depois, partindo de novo em busca de seu filho Hórus, igualmente perdido, esconde o cofre com o corpo de seu esposo entre os papiros do Nilo. Mas Tífon, caçando à noite com a lua nova, nota o cofre sob os raios do astro e reconhece-o. Retira o corpo, rasga-o em catorze partes e espalha-as aos quatro ventos.

Ísis toma conhecimento do fato e recomeça a busca. Recolhe, um por um, os despojos do desmembrado corpo, junta-o e ressuscita o morto.

“Estes símbolos nos levam ao conhecimento de Deus”, conclui Plutarco – mas ele próprio é incapaz de decifrá-los.
O corpo é o ataúde da alma enterrada neste mundo. Assim Osíris caiu no cofre de Set, no corpo-ataúde: nasceu e morreu voluntariamente: “Sabe o dia em que há de deixar de ser”.

O nascimento é uma queda; a ressurreição um levantar-se; Osíris cai para levantar-se e levantar os que caíram; morre para renascer ele mesmo e ressuscitar os demais.

O ataúde egípcio é a envoltura, de madeira e pedra, da múmia e reproduz exatamente não só a forma do corpo, mas também as mesmas aberturas do rosto do morto. O corpo se reconhece pelo ataúde, como a alma pelo corpo. É o ataúde das medidas exatas. Esse é o princípio de distinção, de diferenciação. O Deus desmembrado é o mundo múltiplo: “Sou um, feito dois, quatro, oito”. Eis aqui por que Tífon esquarteja o corpo de Osíris.

Mas se Osíris é Deus, quem é Set? O diabo? Não.
“A perfeição do ser é um mim e o nada é em mim: eu sou Set, o zero entre os deuses. Detém-se, pois, Horus! Set é recebido no número dos deuses”, diz Osíris a Horus, seu filho e vingador.
Isto significa que Osíris e Set fazem um, que são as duas contrapartes do Deus Uno. Osíris conhece o dia em que há de deixar de ser. Esse “deixar de ser” é justamente o nada em Deus, Tífon-Set.
Estes são os simbolismos que nos levam ao conhecimento de Deus.
São Clemente de Alexandria foi, antes de sua conversão ao cristianismo, iniciado em grande número de mistérios pagãos; entre outros, nos de Osíris. Deles se lembrou quando disse que a sabedoria grega vê a verdade eterna em “crucificação ou desmembramento em que baseia o ensinamento da teologia do Logos Eterno”.
          
Quando Ísis morreu, foi sepultada num bosque perto de Mênfis. Sobre sua tumba erigiu-se uma estátua coberta com um véu negro desde os pés até a cabeça e por baixo estas divinas palavras: “Eu sou o que foi, isto é, tudo o que será, e ninguém entre os mortais se atreveu a levantar o véu”.
           
Sob este véu estão ocultos todos os mistérios, e alguns foram conhecidos pelo homem, cuja solução não pôde achar. Só puderam levantar o véu os Mitras, os Krishnas, os Cristos, e nós poderemos se quisermos seguir seus passos. Se o homem persiste em sua ânsia de divinizar-se, a luz brilhará através do véu e poderá ver por trás dele.
Para isso deve encarar a verdade sem levar em conta quão contrária seja ela a suas antigas crenças ou opiniões. O amante da verdade pode levantar o véu.
          
Osíris e Ísis são os pais de todos os mistérios. Todos os deuses são substitutos destes dois e de seu filho Horus. Ísis é Maia, Maria, Matéria, Mãe, tanto da humanidade como dos deuses.
Horus é o filho, o Logos, o Verbo, o Cristo, o Filho de Maria, mãe de Deus. É o símbolo da Luz que diz: Eu sou a Luz do Mundo e o que vem a mim não anda em trevas. Eu sou o que o Criador é, logo Eu sou Ele, Ele é Eu. Por Ísis somos mortais, mas também por ela adquirimos a imortalidade.
           
Em Ísis-Matéria dorme a Luz Divina do Espírito, mas o Fogo Criador Eterno (ou o anseio sexual, que é o fogo e luz) nunca pode ser extinto. Em todas as religiões os mistérios se repetem. Na religião hindu vemos que Shiva mutila Brahma, como Tífon o fez com Osíris, como o javali matou Adônis.
           
Osíris, que é Fogo Criador Divino na matéria, foi através do Sol adorado e conhecido sob diferentes nomes: antes era Mitra, logo Brahma da Índia, depois Adônis da Fenícia, Apolo na Grécia, Odim dos escandinavos, o Hu dos bretões, o Jesus dos cristãos etc… .
           
Se o povo tomou o Sol por Deus em vez de sentir Deus pelo fogo e pela Luz Divina que estão em cada ser, os iniciados não foram responsáveis por este erro. Não foi dito pela Luz do Mundo: “Mulher! Dia chegará em que não se adorará a Deus nem nesta montanha nem em Jerusalém, mas sim em Espírito e em Verdade”? No entanto, até o presente momento o povo adora a Deus por meio de uma estampa ou de uma imagem. Os iniciados sempre ensinaram que o Sol doador da vida não era senão o símbolo da força criadora universal, que era conhecida e sentida pelos super-homens como Fogo Interior e Luz Inefável.
           
Ísis recebeu os nomes Ceres, Réia, Islene, Vénus, Vesta, de onde as vestais do fogo sagrado tomaram seu nome, Cibeles, Níobe, Mális, Óssi, entre os índios, Pussa entre os chineses, Cerideu, entre os bretões antigos e Maria entre os cristãos.
           
Os sábios caldeus, como astrónomos e astrólogos famosos, descobriram leis que, ainda hoje, são reconhecidas como exatas. A cada estrela deram um nome e para cada dia do ano designaram uma estrela. Depois os gregos encarnaram estes nomes em lendas e, por fim, os personificaram em pessoas. Destas lendas se originaram os anjos, os génios, os heróis e os santos.
          
A mitologia contém em si a verdade religiosa, diz Schelling. A religião não é mitologia, mas a mitologia é religião.
O mito universal do Deus que padece, que morre assassinado ou crucificado, não é oriundo do fato de ter ocorrido uma vez e sim em virtude de ter de suceder sempre, que é sentido de novo na vida de cada ser humano. Não sucedeu uma vez, mas sucede sempre. O Cristo-Luz oculto no paganismo revela-se no cristianismo.
           
Já foi dito que o homem chega a fazer de Deus o conceito que lhe permite sua educação intelectual e social; por esse motivo muitos dos homens atuais, ao verem os antigos santuários de Serápis, de Vénus, de Apolo e outros, se perguntam: “A que Deus oravam esses imbecis de então?” Para eles, os construtores da Pirâmide de Queóps, a maravilha científica das idades, são imbecis. Eternas tolices têm sido ditas sobre as coisas eternas. Quando se descobriu a múmia do faraó Ramsés, foi embrulhada em folhas do jornal Les Temps e transportada para o Cairo num carro. O conferente da alfândega pesou-a e, como não encontrasse na tarifa a classificação correspondente, aplicou-lhe a taxa de bacalhau seco. E, assim, para nossos doutos fiéis, modernos, o corpo das antigas religiões é bacalhau seco.
          
Algum cristão, por acaso, já se deu ao trabalho de pesquisar sob o invólucro do mito para encontrar o mistério? Não, porque ninguém suspeitou, ainda que a verdade do mito esteja no mistério.
Omar, ao queimar a biblioteca de Alexandria, disse: “Se os livros são bons, não os necessitamos, porque todo o bem o temos no Alcorão, e, se são maus, não devem existir”.
           
Osíris, Tamuz, Adónis, Átis, Mitra, Dionísio são a sombra das coisas vindouras, mas, por lógica, devemos deduzir que o Corpo de Cristo deve ter existido eternamente, pois sem o corpo não pode haver sombra. Antes de Cristo existiu o cristianismo, ensinou Santo Agostinho; tudo o que não é eterno não é verdadeiro, diz Hermes Trimegisto. Os mistérios de Osíris são eternos e, por isso, florescem em todas as religiões que lhe sucederam, apesar da deturpação de seus significados.
          
“O ruído aborrece Deus. Rezai em silêncio, homens!”, diz o verso de um hino dirigido ao Deus-Sol-Amon-Rá. E depois de milhares de anos, Jesus repete: “Fecha a porta e ora a teu pai que vê em segredo, e te recompensará”.

"Comecei por ser Deus Uno, porém três deuses foram em mim”, diz um antigo livro egípcio de Deus Nun. Por acaso os padres do Concílio de Nicéia falaram melhor? “Glória a ti que baixas nas trevas”, diz um verso de um hino antigo. E “A luz resplandece nas trevas”, diz São João.

“O Espírito na Matéria é a luz nas trevas”, ensinam os Magos. “Por que a matéria na há de ser digna da natureza divina?” pergunta Spinoza. Ninguém respondeu a esta pergunta senão o Egito.
           
Os mistérios de Osíris são os mistérios da Religião do Sexo. No santuário de Donderach, em leito mortuário, está estendida, envolta num sudário, a múmia de Osíris ressuscitante, com o ‘Falo’ ereto. A deusa Ísis, em forma de gavião de asas abertas, desce sobre ele e, viva, se une com o morto e extrai o sémen do esposo. O sexo é a vida através da morte.
          
Osíris se pronuncia em egípcio antigo Usirit, que quer dizer “Osírisis” numa só palavra, com as significações masculinas e femininas: ele-ela, andrógino, homem-mulher. Em cada homem se esconde uma mulher e em cada mulher, um homem. Osíris-Espírito une-se com sua irmã-Matéria e engendram Horus, em quem estavam todas as coisas. Deus, Elohim, criou o homem à sua imagem e semelhança; criou-o à imagem de Elohim, macho e fêmea os criou (embora o original diga macho-fêmea). Primeiro o depois os (a imagem de Deus está no homem, Deus em Um; não Adão somente, mas Adão e Eva ‘Ieva’, porque o próprio Deus é Duo, Ele e Ela, Homem-Mulher).
           
O mistério do sexo (do Uno) é o mistério dos dois. O Talmud diz: “O homem e a mulher foram, em princípio, um só corpo de dois rostos (pólos), mas logo o Senhor os dividiu em dois e deu a cada metade uma espinha dorsal. Viver em Dualidade Sexual é caminhar para a morte…”
          
A religião do Egipto é a religião do sexo. Mas do sexo que ressuscita e não do sexo que mata; no mesmo corpo de Deus Osíris desmembrado Ísis substitui o desaparecimento do ‘Falo’ sagrado por outro de madeira, para a ressurreição … Ísis é esposa, irmã e mãe. A matéria é filha, irmã e mãe de Deus. A virgem é filha do Pai, esposa do Espírito Santo e mãe do Filho…
“Durante os dias em que se celebravam as festas do Deus Livre, a imagem do ‘Falo’ era colocada em carros e exibida pela cidade com grandes honras”, conta Santo Agostinho falando dos mistérios pagãos.
           
A circuncisão é o testemunho nupcial de sangue e carne. Até hoje, ninguém, ninguém mesmo descobriu o significado do mistério da circuncisão. O anel da circuncisão é o anel dos esponsais. É a união conjugal do homem com Deus. “Que coisa tão espantosa e que blasfémia!” Mas é menos espantoso comermos Deus? Nutrirmo-nos de sua carne e de seu sangue? “Quem é que pode ouvir isso?!”, exclamaram, espantados, os discípulos do Senhor, quando pela primeira vez ouviram tal afirmação. O mistério da circuncisão é este:
“Através da circuncisão desse anel recortado na carne o homem contempla Deus eterna e involuntariamente. Por quê? Porque a extremidade do membro é o ponto mais ardente e, por isso, este ponto mais ardente do prazer sexual é consagrado a Deus e o Universo se eleva a Deus por esse anel”. (Colégio dos Magos)
           
Os elos da cadeia ou os anéis da circuncisão – carnal ou espiritual – encontramo-los na Religião do Pai em toda a Antiguidade pagã, no Testamento do Pai. Moisés encontrou a circuncisão no caminho do Egipto, porque o Egipto é a fonte do sexo sagrado. Adorar ao Pai em Espírito e Verdade é chegar a Ele pelo Sentir e pelo Amor. Orar ao Pai é comunicar-se com Ele, entrando no interior (do aposento). Falar-lhe é senti-lo em segredo. Esta foi e é a religião dos sábios e iniciados.
           
“Mas ao Pai ninguém viu”, diz o Grande Mestre. No entanto, o Pai engendra o Filho e ressuscita-o; logo a primeira ideia da geração e da ressurreição vai unida à ideia do Sexo e nunca as religiões de Mitra e de Osíris fizeram qualquer distinção entre as duas ideias… A base de toda religião é: “O sexo excede os limites da Natureza. Está por fora e por cima dela… É o abismo que leva aos antípodas do Universo. É a única imagem do outro mundo que se nos mostra neste”. (Colégio dos Magos)
          
“O Sexo é o único contato de nossa carne com o além.” (Colégio dos Magos)
           
A sede sexual é a sede da ciência, da Árvore do conhecimento do bem e do mal. Os dois serão uma só carne. Sim, mas ainda não o são, senão no amor mortal, já que tudo o que nasce morre. O Egipto sentiu o amor imortal que ressuscita.
           
O ‘Falo’ de Osíris não simboliza a procriação, a fecundidade, o nascimento e a morte, mas a ressurreição. “Ó deuses, saídos da energia sexual! Estendei-me vossos braços”, suplica um morto levantando-se do ataúde (Livro dos Mortos). Outro ressuscitado confessa: “Ó Energia Sexual de Osíris que extermina os inimigos rebeldes (contra Deus)! Por ela sou mais forte que os fortes, mais poderoso que os poderosos”.
          
As religiões antigas que adoravam o Sexo não adoravam o Sexo grosseiro, terreno, animal, mas sim o fogo sexual subtil, espiritual, astral, cósmico, aquela força divina que ressuscita, já que os mortos têm de ressuscitar, de engendrar a si mesmos na Eternidade. O Credo de Nicéia diz: “Creio na ressurreição da Carne”. Enquanto as religiões antigas criam na ressurreição da carne por meio do Divino Sexo. Por isso os egípcios, cortando às vezes o ‘Falo’ do morto, embalsamavam-no separadamente e o depositavam ao lado da múmia em pequeno obelisco de madeira dourada, simulando o raio solar, ou ‘Falo’ divino que vivifica: outra forma de união do morto com o Sol. Por isso Ísis encontra todas as partes do corpo desmembrado de Osíris, menos o ‘Falo’, porque foi arrebatado e levado ao ponto de onde havia vindo, deste mundo ao outro, e a deusa o substituiu por uma imagem de madeira de sicómoro.
Os mistérios de Ísis, o véu de Ísis! Quem se atreve a divulgá-los sem ser queimado vivo?

A religião de Osíris é a religião do sexo divino, pela qual o homem, inteiramente, pode ver Deus de frente a frente sem morrer. Osíris é o Fogo-Luz em todo o corpo, em cada uma das células. Este Fogo Criador não tem sua sede nas partes sexuais e sim é mais vasto que o corpo. O Fogo não está no corpo, porém o corpo está no Fogo. O Sexo pode causar a morte, mas sem o Sexo não há ressurreição.



Dr. Jorge Adoum, “ Do Sexo à Divindade”

Pode procurar  AQUI e baixar gratuitamente o livro completo

JFM Lisboa - Portugal


Nenhum comentário:

Postar um comentário