A RELIGIÃO
DE OSÍRIS
Depois de estudar a religião de Mitra, agora nos
toca estudar uma outra que nos confirma que todas as religiões têm uma mesma
origem e fundamentalmente as mesmas têm por base o mistério do sexo.
Do meio do caos nasceu Osíris; ao nascer,
ouviu-se uma voz que dizia: “O governador de toda a Terra nasceu”. Do mesmo
seio ou útero nasceram Ísis, Rainha da Luz, e Tífon, Rei das Trevas. Já temos,
então, a trindade fundamental.
Diz o Livro dos Mortos: conhece o dia em que haverá de deixar de ser (existir).
Conhece seu sacrifício. “Tem poder de dar sua vida e de recobrá-la. Seu
suplício é voluntário, mas ele mesmo o quis”. (Isaías LIII, 7)
Deus está no sofrimento. Osíris é o sorriso dos
que choram. Osíris está na vítima que se imola, e no grão que morre na espiga
que se ceifa, no Nilo que decresce, no quarto minguante da Lua, em todo
sofrimento, mas sobretudo no sofrimento humano.
Osíris foi homem e Deus ao mesmo tempo; realmente Deus e realmente homem.
“humilhou-se sob a aparência de um escravo”.
De quem se fala assim? De Osíris?
Não, Osíris não é nada mais que a sombra do Corpo
Invisível. Mas essa semelhança entre o corpo e a sombra é o mais insondável
mistério do Egipto.
Nos confins do arenoso deserto da Líbia, ao fundo
da grande planície semicircular de Abidos, numa estreita garganta rochosa,
Peher (atualmente Ulel-Hakab), ali onde o Sol se põe, foram encontrados os
túmulos dos mais antigos reis do Egipto, e, entre eles, o sarcófago de Osíris.
O sábio francês Amelineau, que levou a cabo escavações em Abidos em 1897-1898,
viu nas inscrições desses túmulos um testemunho tão incontestável, que
acreditou haver encontrado realmente o féretro do Homem-Osíris, personagem
histórica, terceiro faraó da dinastia I.
Todo o Egipto descansa na crença de que o
Homem-Osíris ou Homem-Deus viveu, sofreu e morreu na terra.
A única lápide conservada refere-se a uma
inscrição dos mistérios de Osíris celebrados no Santuário de Abidos: as
“Paixões de Osíris” se representavam num drama, assim como as paixões de Senhor
nos mistérios da Idade Média. No silêncio ressoava um grito súbito, a grande
lamentação de Ísis sobre Osíris morto.
Todo o Egipto vira as costas a Osíris, que morre
e olha para o Deus que ressuscita, não querendo ver o sofrimento nem a morte;
mesmo sabendo que o sofrimento e a morte são divinos.
Um velho conto egípcio foi recolhido, milhares de anos mais tarde, por
Plutarco, grego do século I-II de nossa era, grande sacerdote de Apolo em Delfos. Em seu tratado
sobre Ísis e Osíris, diz: “Em outros
tempos, os deuses viviam na terra com os homens, e o grande Deus Rá, que
habitava em Heliópolis (cidade do Sol), governava o Egipto.
Então a Terra não estava ainda separada do Céu, e
os homens eram como deuses. Mas se perverteram, renegaram o Deus Único e
disseram: ‘vede-o que envelheceu e está achacadiço. Seus ossos são como prata,
sua carne como ouro e seus cabelos como lápis-lazúli (Lazulite); seus membros
tremem, e a saliva mana de sua boca’. Assim os homens zombavam de Deus. E Deus
se encolerizou e ordenou à deusa do Amor, Hátor, que exterminasse o gênero
humano. Hátor o exterminou, mas não por completo. Deus, movido de piedade para
com os homens, inundou, durante a noite, a terra com uma bebida inebriante e
quando, pela manhã, a deusa entrou naquele mar, viu refletido nele seu rosto e
alegrou-se de sua formosura. Provou do licor, embriagou-se e cessou de
exterminar o género humano.
Mas a antiga união do Céu e da Terra ficou
desfeita. E Deus disse: ‘Meu coração está cansado. Não quero viver com os
homens e não quero aniquilá-los por completo’. E Deus deixou a Terra, subiu ao
Céu e separou a Terra do Céu. E são, ainda hoje, como serão até o fim dos
tempos. Assim acabou o primeiro mundo e começou o segundo.”
Quando Deus, ao subir ao Céu, abandonou os homens, estes, devorando-se uns aos
outros como animais selvagens, ter-se-iam exterminado se não tivesse sobrevindo
Osíris. Ele nasceu como simples mortal e, tendo chegado a ser rei do Egito,
afastando os homens de sua existência bestial, ensinou-lhes a cultivar os
cereais, deu-lhes leis e instituiu o culto aos deuses. Depois percorreu o
mundo, proclamando seu reinado e submetendo todos os povos, não com a espada,
mas com o Amor, com o canto, a música e a dança. Quando voltou ao Egipto, seu
irmão Tífon-Set, com setenta e dois conspiradores, decidiu sua perdição. Tomou
em segredo a medida exata de seu corpo e, baseado nela, construir um cofre
magnificamente ornamentado e convidou seu irmão para um festim. Durante o
ágape, os servos trouxeram o cofre. Todos os convidados se maravilharam e
Tífon, como que gracejando, prometeu presenteá-lo àquele cuja estatura se
adaptasse às dimensões do cofre.
Os setenta e dois cúmplices estendem-se um após
outro no cofre, o qual, no entanto, não foi feito na medida de nenhum deles.
Por último, o próprio Osíris se estende nele. Então investem todos sobre o
cofre, fecham-no, pregam a tampa com cravos e soldam-na com chumbo derretido,
levam-no ao Nilo, arrojam-no à água, e o cofre, pela boca do Tanais, vaga
(deslizando suavemente até o mar).
Ísis, esposa de Osíris, andou buscando durante
muito tempo o corpo de seu esposo, errante por toda a terra. Por fim o encontra
e, com gritos e prantos, deixa-se cair sobre ele, aperta seu rosto contra o do
morto, beija-o e rega-o com suas lágrimas. Depois, partindo de novo em busca de
seu filho Hórus, igualmente perdido, esconde o cofre com o corpo de seu esposo
entre os papiros do Nilo. Mas Tífon, caçando à noite com a lua nova, nota o
cofre sob os raios do astro e reconhece-o. Retira o corpo, rasga-o em catorze
partes e espalha-as aos quatro ventos.
Ísis toma conhecimento do fato e recomeça a
busca. Recolhe, um por um, os despojos do desmembrado corpo, junta-o e
ressuscita o morto.
“Estes símbolos nos levam ao conhecimento de
Deus”, conclui Plutarco – mas ele próprio é incapaz de decifrá-los.
O corpo é o ataúde da alma enterrada neste mundo.
Assim Osíris caiu no cofre de Set, no corpo-ataúde: nasceu e morreu
voluntariamente: “Sabe o dia em que há de deixar de ser”.
O nascimento é uma queda; a ressurreição um
levantar-se; Osíris cai para levantar-se e levantar os que caíram; morre para
renascer ele mesmo e ressuscitar os demais.
O ataúde egípcio é a envoltura, de madeira e
pedra, da múmia e reproduz exatamente não só a forma do corpo, mas também as
mesmas aberturas do rosto do morto. O corpo se reconhece pelo ataúde, como a
alma pelo corpo. É o ataúde das medidas exatas. Esse é o princípio de
distinção, de diferenciação. O Deus desmembrado é o mundo múltiplo: “Sou um,
feito dois, quatro, oito”. Eis aqui por que Tífon esquarteja o corpo de Osíris.
Mas se Osíris é Deus, quem é Set? O diabo? Não.
“A perfeição do ser é um mim e o nada é em mim:
eu sou Set, o zero entre os deuses. Detém-se, pois, Horus! Set é recebido no número
dos deuses”, diz Osíris a Horus, seu filho e vingador.
Isto significa que Osíris e Set fazem um, que são
as duas contrapartes do Deus Uno. Osíris conhece o dia em que há de deixar de
ser. Esse “deixar de ser” é justamente o nada em Deus, Tífon-Set.
Estes são os simbolismos que nos levam ao
conhecimento de Deus.
São Clemente de Alexandria foi, antes de sua
conversão ao cristianismo, iniciado em grande número de mistérios pagãos; entre
outros, nos de Osíris. Deles se lembrou quando disse que a sabedoria grega vê a
verdade eterna em “crucificação ou desmembramento em que baseia o ensinamento
da teologia do Logos Eterno”.
Quando Ísis morreu, foi sepultada num bosque perto de Mênfis. Sobre sua tumba
erigiu-se uma estátua coberta com um véu negro desde os pés até a cabeça e por
baixo estas divinas palavras: “Eu sou o que foi, isto é, tudo o que será, e
ninguém entre os mortais se atreveu a levantar o véu”.
Sob este véu estão ocultos todos os mistérios, e alguns foram conhecidos pelo
homem, cuja solução não pôde achar. Só puderam levantar o véu os Mitras, os
Krishnas, os Cristos, e nós poderemos se quisermos seguir seus passos. Se o
homem persiste em sua ânsia de divinizar-se, a luz brilhará através do véu e
poderá ver por trás dele.
Para isso deve encarar a verdade sem levar em
conta quão contrária seja ela a suas antigas crenças ou opiniões. O amante da
verdade pode levantar o véu.
Osíris e Ísis são os pais de todos os mistérios. Todos os deuses são
substitutos destes dois e de seu filho Horus. Ísis é Maia, Maria, Matéria, Mãe,
tanto da humanidade como dos deuses.
Horus é o filho, o Logos, o Verbo, o Cristo, o
Filho de Maria, mãe de Deus. É o símbolo da Luz que diz: Eu sou a Luz do Mundo
e o que vem a mim não anda em
trevas. Eu sou o que o Criador é, logo Eu sou Ele, Ele é Eu.
Por Ísis somos mortais, mas também por ela adquirimos a imortalidade.
Em Ísis-Matéria dorme a Luz Divina do Espírito, mas o Fogo Criador Eterno (ou o
anseio sexual, que é o fogo e luz) nunca pode ser extinto. Em todas as
religiões os mistérios se repetem. Na religião hindu vemos que Shiva mutila
Brahma, como Tífon o fez com Osíris, como o javali matou Adônis.
Osíris, que é Fogo Criador Divino na matéria, foi através do Sol adorado e
conhecido sob diferentes nomes: antes era Mitra, logo Brahma da Índia, depois
Adônis da Fenícia, Apolo na Grécia, Odim dos escandinavos, o Hu dos bretões, o
Jesus dos cristãos etc… .
Se o povo tomou o Sol por Deus em vez de sentir Deus pelo fogo e pela Luz
Divina que estão em cada ser, os iniciados não foram responsáveis por este
erro. Não foi dito pela Luz do Mundo: “Mulher! Dia chegará em que não se
adorará a Deus nem nesta montanha nem em Jerusalém, mas sim em Espírito e em
Verdade”? No entanto, até o presente momento o povo adora a Deus por meio de
uma estampa ou de uma imagem. Os iniciados sempre ensinaram que o Sol doador da
vida não era senão o símbolo da força criadora universal, que era conhecida e
sentida pelos super-homens como Fogo Interior e Luz Inefável.
Ísis recebeu os nomes Ceres, Réia, Islene, Vénus, Vesta, de onde as vestais do
fogo sagrado tomaram seu nome, Cibeles, Níobe, Mális, Óssi, entre os índios,
Pussa entre os chineses, Cerideu, entre os bretões antigos e Maria entre os
cristãos.
Os sábios caldeus, como astrónomos e astrólogos famosos, descobriram leis que,
ainda hoje, são reconhecidas como exatas. A cada estrela deram um nome e para
cada dia do ano designaram uma estrela. Depois os gregos encarnaram estes nomes
em lendas e, por fim, os personificaram em pessoas. Destas
lendas se originaram os anjos, os génios, os heróis e os santos.
A mitologia contém em si a verdade religiosa, diz Schelling. A religião não é
mitologia, mas a mitologia é religião.
O mito universal do Deus que padece, que morre
assassinado ou crucificado, não é oriundo do fato de ter ocorrido uma vez e sim
em virtude de ter de suceder sempre, que é sentido de novo na vida de cada ser
humano. Não sucedeu uma vez, mas sucede sempre. O Cristo-Luz oculto no
paganismo revela-se no cristianismo.
Já foi dito que o homem chega a fazer de Deus o conceito que lhe permite sua
educação intelectual e social; por esse motivo muitos dos homens atuais, ao
verem os antigos santuários de Serápis, de Vénus, de Apolo e outros, se
perguntam: “A que Deus oravam esses imbecis de então?” Para eles, os
construtores da Pirâmide de Queóps, a maravilha científica das idades, são
imbecis. Eternas tolices têm sido ditas sobre as coisas eternas. Quando se
descobriu a múmia do faraó Ramsés, foi embrulhada em folhas do jornal Les Temps
e transportada para o Cairo num carro. O conferente da alfândega pesou-a e,
como não encontrasse na tarifa a classificação correspondente, aplicou-lhe a
taxa de bacalhau seco. E, assim, para nossos doutos fiéis, modernos, o corpo
das antigas religiões é bacalhau seco.
Algum cristão, por acaso, já se deu ao trabalho de pesquisar sob o invólucro do
mito para encontrar o mistério? Não, porque ninguém suspeitou, ainda que a
verdade do mito esteja no mistério.
Omar, ao queimar a biblioteca de Alexandria,
disse: “Se os livros são bons, não os necessitamos, porque todo o bem o temos
no Alcorão, e, se são maus, não devem existir”.
Osíris, Tamuz, Adónis, Átis, Mitra, Dionísio são a sombra das coisas vindouras,
mas, por lógica, devemos deduzir que o Corpo de Cristo deve ter existido
eternamente, pois sem o corpo não pode haver sombra. Antes de Cristo existiu o
cristianismo, ensinou Santo Agostinho; tudo o que não é eterno não é
verdadeiro, diz Hermes Trimegisto. Os mistérios de Osíris são eternos e, por
isso, florescem em todas as religiões que lhe sucederam, apesar da deturpação
de seus significados.
“O ruído aborrece Deus. Rezai em silêncio, homens!”, diz o verso de um hino
dirigido ao Deus-Sol-Amon-Rá. E depois de milhares de anos, Jesus repete:
“Fecha a porta e ora a teu pai que vê em segredo, e te recompensará”.
"Comecei por ser Deus Uno, porém três deuses foram em mim”, diz um antigo
livro egípcio de Deus Nun. Por acaso os padres do Concílio de Nicéia falaram
melhor? “Glória a ti que baixas nas trevas”, diz um verso de um hino antigo. E
“A luz resplandece nas trevas”, diz São João.
“O Espírito na Matéria é a luz nas trevas”,
ensinam os Magos. “Por que a matéria na há de ser digna da natureza divina?”
pergunta Spinoza. Ninguém respondeu a esta pergunta senão o Egito.
Os mistérios de Osíris são os mistérios da Religião do Sexo. No santuário de
Donderach, em leito mortuário, está estendida, envolta num sudário, a múmia de
Osíris ressuscitante, com o ‘Falo’ ereto. A deusa Ísis, em forma de gavião de
asas abertas, desce sobre ele e, viva, se une com o morto e extrai o sémen do
esposo. O sexo é a vida através da morte.
Osíris se pronuncia em egípcio antigo Usirit, que quer dizer “Osírisis” numa só
palavra, com as significações masculinas e femininas: ele-ela, andrógino,
homem-mulher. Em cada homem se esconde uma mulher e em cada mulher, um homem.
Osíris-Espírito une-se com sua irmã-Matéria e engendram Horus, em quem estavam
todas as coisas. Deus, Elohim, criou o homem à sua imagem e semelhança; criou-o
à imagem de Elohim, macho e fêmea os criou (embora o original diga
macho-fêmea). Primeiro o depois os (a imagem de Deus está no homem, Deus em Um;
não Adão somente, mas Adão e Eva ‘Ieva’, porque o próprio Deus é Duo, Ele e
Ela, Homem-Mulher).
O mistério do sexo (do Uno) é o mistério dos dois. O Talmud diz: “O homem e a
mulher foram, em princípio, um só corpo de dois rostos (pólos), mas logo o
Senhor os dividiu em dois e deu a cada metade uma espinha dorsal. Viver em Dualidade Sexual
é caminhar para a morte…”
A religião do Egipto é a religião do sexo. Mas do sexo que ressuscita e não do
sexo que mata; no mesmo corpo de Deus Osíris desmembrado Ísis substitui o
desaparecimento do ‘Falo’ sagrado por outro de madeira, para a ressurreição …
Ísis é esposa, irmã e mãe. A matéria é filha, irmã e mãe de Deus. A virgem é
filha do Pai, esposa do Espírito Santo e mãe do Filho…
“Durante os dias em que se celebravam as festas
do Deus Livre, a imagem do ‘Falo’ era colocada em carros e exibida pela cidade
com grandes honras”, conta Santo Agostinho falando dos mistérios pagãos.
A circuncisão é o testemunho nupcial de sangue e carne. Até hoje, ninguém,
ninguém mesmo descobriu o significado do mistério da circuncisão. O anel da
circuncisão é o anel dos esponsais. É a união conjugal do homem com Deus. “Que
coisa tão espantosa e que blasfémia!” Mas é menos espantoso comermos Deus?
Nutrirmo-nos de sua carne e de seu sangue? “Quem é que pode ouvir isso?!”,
exclamaram, espantados, os discípulos do Senhor, quando pela primeira vez
ouviram tal afirmação. O mistério da circuncisão é este:
“Através da circuncisão desse anel recortado na
carne o homem contempla Deus eterna e involuntariamente. Por quê? Porque a
extremidade do membro é o ponto mais ardente e, por isso, este ponto mais
ardente do prazer sexual é consagrado a Deus e o Universo se eleva a Deus por
esse anel”. (Colégio dos Magos)
Os elos da cadeia ou os anéis da circuncisão – carnal ou espiritual –
encontramo-los na Religião do Pai em toda a Antiguidade pagã, no Testamento do
Pai. Moisés encontrou a circuncisão no caminho do Egipto, porque o Egipto é a
fonte do sexo sagrado. Adorar ao Pai em Espírito e Verdade é chegar a Ele pelo
Sentir e pelo Amor. Orar ao Pai é comunicar-se com Ele, entrando no interior
(do aposento). Falar-lhe é senti-lo em segredo. Esta foi e é a religião dos sábios e
iniciados.
“Mas ao Pai ninguém viu”, diz o Grande Mestre. No entanto, o Pai engendra o
Filho e ressuscita-o; logo a primeira ideia da geração e da ressurreição vai
unida à ideia do Sexo e nunca as religiões de Mitra e de Osíris fizeram qualquer
distinção entre as duas ideias… A base de toda religião é: “O sexo excede os
limites da Natureza. Está por fora e por cima dela… É o abismo que leva aos
antípodas do Universo. É a única imagem do outro mundo que se nos mostra
neste”. (Colégio dos Magos)
“O Sexo é o único contato de nossa carne com o além.” (Colégio dos Magos)
A sede sexual é a sede da ciência, da Árvore do conhecimento do bem e do mal.
Os dois serão uma só carne. Sim, mas ainda não o são, senão no amor mortal, já
que tudo o que nasce morre. O Egipto sentiu o amor imortal que ressuscita.
O ‘Falo’ de Osíris não simboliza a procriação, a fecundidade, o nascimento e a
morte, mas a ressurreição. “Ó deuses, saídos da energia sexual! Estendei-me
vossos braços”, suplica um morto levantando-se do ataúde (Livro dos Mortos).
Outro ressuscitado confessa: “Ó Energia Sexual de Osíris que extermina os
inimigos rebeldes (contra Deus)! Por ela sou mais forte que os fortes, mais
poderoso que os poderosos”.
As religiões antigas que adoravam o Sexo não adoravam o Sexo grosseiro,
terreno, animal, mas sim o fogo sexual subtil, espiritual, astral, cósmico,
aquela força divina que ressuscita, já que os mortos têm de ressuscitar, de
engendrar a si mesmos na Eternidade. O Credo de Nicéia diz: “Creio na
ressurreição da Carne”. Enquanto as religiões antigas criam na ressurreição da
carne por meio do Divino Sexo. Por isso os egípcios, cortando às vezes o ‘Falo’
do morto, embalsamavam-no separadamente e o depositavam ao lado da múmia em
pequeno obelisco de madeira dourada, simulando o raio solar, ou ‘Falo’ divino
que vivifica: outra forma de união do morto com o Sol. Por isso Ísis encontra
todas as partes do corpo desmembrado de Osíris, menos o ‘Falo’, porque foi arrebatado
e levado ao ponto de onde havia vindo, deste mundo ao outro, e a deusa o
substituiu por uma imagem de madeira de sicómoro.
Os mistérios de Ísis, o véu de Ísis! Quem se
atreve a divulgá-los sem ser queimado vivo?
A religião de Osíris é a religião do sexo divino,
pela qual o homem, inteiramente, pode ver Deus de frente a frente sem morrer.
Osíris é o Fogo-Luz em todo o corpo, em cada uma das células. Este Fogo Criador
não tem sua sede nas partes sexuais e sim é mais vasto que o corpo. O Fogo não
está no corpo, porém o corpo está no Fogo. O Sexo pode causar a morte, mas sem
o Sexo não há ressurreição.
Dr. Jorge Adoum, “ Do Sexo à Divindade”
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